segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Um Pouco Disso Tudo


Então, aqui estou eu sem conseguir dormir, tentando entender pelo menos o mínimo de algo denominado vida.

A vida me coloca em desespero algumas vezes. E quando isso acontece fico sem saber o que fazer.

Tenho um lápis e um papel para escrever a minha história, mas não tenho borracha para apagar os erros e nem um rascunho para poder passá-la a limpo.

Fico em dúvida quanto a isso ser o certo, mas vou me virando com o que tenho.

Do meu lado tem um relógio cronometrando o meu tempo. Seu tic-tac não me deixa esquecer de que o tempo se esvai a cada segundo. O pior é que não sei quando esse relógio vai parar.

Leio alguns trechos do que escrevi e tenho vontade de corrigir muita coisa... Palavras erradas, outras formas de escrever que se encaixariam melhor dentro do contexto.

Como não tenho borracha, faço rabiscos tentando concertar.

Em minha volta, várias pessoas me observam, aguardando ler minha história e julgá-la.

Fico tensa e me sinto pressionada por essa situação. Se eu pensar só em mim a história toma um rumo, mas se eu for pensar em agradar a essas pessoas, ela segue outra direção.

De qualquer forma uns vão gostar da história, outros não. Tem também quem vá opinar e criticar dizendo que eu devia ter feito de outra maneira.

Bilhões de pessoas nunca irão ler ou tomar conhecimento que minha história sequer existiu. Portanto, existe algum cabimento escrevê-la de acordo com a opinião alheia? 

Acredito que não.  

Mesmo que o desespero tome conta de mim de vez em quando e eu demore a me decidir sobre o que fazer da vida, não tem sentido viver uma vida que não escolhi. Só eu fico acordada pensando em meus problemas, ninguém perde o sono comigo para me ajudar a resolvê-los.

Posso estar errada, mas é o que penso. Talvez ainda me falte um pouco de sabedoria. 

Até eu parar de fazer rabiscos vai demorar um pouco.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Deixamos de sermos “nós” para ser eu e você.
Você quase não me liga mais. Raramente vem me ver. Repentinamente perdeu interesse por tudo que tem a ver comigo.

Eu tenho percebido você se distanciar cada vez mais de mim e essa angustia de te esperar está acabando comigo. Esperando que me ligue ou que venha me ver. Esperando de hora em hora na frente do portão para ver se você chega, afinal já estava acostumada com o barulho de seus passos.
Sua expressão também não é mais a mesma de antes. Assim como o seu beijo também não é mais o mesmo. Sabe, não é mais intenso.
 
 
Eu não sei quando foi, mas eu já sei que te perdi. Você pode considerar isso como sexto sentido de mulher. Não tente entender. “Sexto sentido não faz sentido”. Luis Fernando Verissimo adiantou isso.
 
 
Tento me lembrar aonde foi que eu errei, ou melhor, aonde foi que nós erramos. E me vem em mente milhares de brigas bobas e de palavras ásperas, que não nos levaram a nada e só formaram feridas que permaneceram abertas pelas magoas que viemos acumulando com o tempo, um pelo outro.
 
 
Então eu tive vontade de voltar atrás e de concertar o que acabou com o amor que a gente sentia, mas algo me diz que já não tem mais jeito. Nesse momento senti o meu coração aos pedaços.

Você tem medo de dizer o que nós dois já sabemos e para não me ver chorar, simplesmente some.
 
 
Aprendi que os homens somem quando não tem coragem de dizer “eu não te quero mais”.
 
 
Aprendi também que homens não resistem a um apelo feminino com voz manhosa assim:
 
 
 - Amor você vem me ver?
 
 
Quem sabe se a gente conversasse poderiamos nos entender?
 
 
Eu ia te pedir para ficar comigo só mais essa noite porque não quero ficar sozinha e você sabe que eu não gosto de não ter como aquecer meus pés totalmente gelados.


Só que depois tudo seria igual novamente. E ambos sabemos que a situação ficaria cada vez pior até que acabariamos nos detestando.
 
 
E por falar nisso, te detesto quando lembro que mentiu sobre me amar para sempre. Detesto mais ainda pela sua covardia em dizer que nada do que tenha dito antes faz sentido agora. Porque o sentimento acabou e é tudo, ou melhor, e é só.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Mundo Inventado


Vou falar sobre um fato que me persegue desde pequena. O fato de que esse mundo nunca foi suficiente para mim.

 Eu precisava de um mundo particular. Então, criei um outro mundo para que eu pudesse me livrar  da dura realidade que todos os dias tentava me engolir com sua boca tão grande.

As mais belas e loucas histórias de amor foram inventadas e vividas por mim em meus devaneios. Além das aventuras mais radicais e concretizações  dos  mais secretos  desejos.

Quando saia de meu mundo inventado, me deparava com o mundão cruel que me dizia que eu era o oposto de tudo aquilo que havia inventado. Por isso era tão insuportável eu viver nele. Ele me mostrava tudo o que eu não queria ser. Nem queria admitir que era.

A batalha do Mundo Real contra o Mundo Imaginário.

Mundo real: Brincava com o portão da escola e conversava com ele como se fosse um velho amigo, enquanto ignorava os dedos apontando em minha direção acompanhados por deboches do tipo: “Olhem, uma menina conversando com o portão!”. Sentada no pátio vazio da escola munida de livros da coleção Vagalume, afastada de todos os outros seres racionais, era incompreendida.
  
Mundo imaginário: A garota mais bonita, popular, cheia de amigos e uma atleta nata. Às vezes gerava inimizades entre os garotos, pois todos eram apaixonados por mim e me disputavam aos tapas. Porém, meu coração já tinha dono, que por mera coincidência pertencia ao garoto mais bonito e popular da escola.

Elegendo a segunda opção como a minha favorita, eu passava bem mais tempo em meu imaginário mundo no que no verdadeiro.

Mesmo já estando crescida o mundo inventado me levava para longe da maldade e padrões estipulados pela sociedade que acaba por diminuir as pessoas que tem dificuldade em se relacionar com ela. Por esse motivo eu inventei um mundo sendo o oposto desse, ele me dava esperanças de um mundo real melhor em todos os aspectos.

Depois de algum tempo os deboches da escola foram substituídos, pelo pessimismo e descrença de pessoas que tentavam quebrar as asas de minha imaginação me lembrando repetidamente; “você não pode ser”, “não vai conseguir”, “não tem condições”, “não é capaz”, diziam as vozes que trincavam o meu mundo, mas ele se nunca quebrou. Porque embora mundo real gritasse, a minha mente não escutava e “tapava os ouvidos”.
Eu me recusava aceitar um mundo diferente do que eu merecia.

Aos poucos o meu mundo imaginário foi enfraquecido pelas dificuldades que iam surgindo com o tempo, e o mundo real se tornou mais presente porque ele me obrigava a pagar contas. Mas, sempre permiti um pezinho naquele mundo criado por minha fértil mente.

Uma confusão surgiu entre os mundos. É melhor viver da realidade ou viver de imaginações?
Na dúvida, eu escolhi ficar com as duas opções.
Preciso dos dois. Pois quando esse mundo aqui sufocar e quiser me “engolir”, eu corro para aquele que é tão bom, acolhedor e amistoso mundo. Encontro fuga para tudo quanto é coisa ruim, vou para longe por instantes enquanto esse mundo parece querer desabar e imagino um mundo só com coisas boas.

É claro que “mundo imaginário” é só um disfarce, ele pode ser qualquer outra coisa que você se apega para ser forte e sobreviver nessa selva que é a vida.



 

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Queria


Eu queria ser diferente, mas sou igual a todo mundo.
Queria ser amada por todos, mas nem todos me amam.
Queria ser doce... Doce de leite, chocolate com morango, brigadeiro.
Mas muitas vezes sou azeda como um limão e amarga como um jiló.
Outras vezes sou agridoce.
Queria ser suave, mas sou ardida como uma pimenta e ácida como uma aspirina.
Queria ser light, mas tenho milhares de calorias, portanto não abuse.
Queria ser maleável, mas sou dura como a rapadura.
Queria ser só eu, mas sou você, sou nós, sou todos, porque pega o jeito, uma frase, um gesto.
Embora eu seja muito eu, mas ainda assim sou um pouquinho de alguém.




terça-feira, 30 de agosto de 2011

Timidez


Eu costumava imaginar como seria se ele me amasse. Criava romances protagonizando nós dois, ensaiava mil maneiras de declarar o que eu sentia calada. Mas, quando eu cheguei perto dele todos os meus sentidos foram embora restando apenas minha mudez calada.
Eu acuei sem querer enquanto tudo ao redor continuou a mover-se naturalmente.

Momento de perplexidade. Sensação de frear sem ter acelerado. Via as pessoas conversando, rindo, escutei alguém mexer comigo, mas não pude revidar, estava estática. Instante em que a voz ficou presa na garganta. Instante em que eu não poderia reagir nem se levasse um soco. Instante que não houve ação tampouco reação
 Não é igual como quando eu tenho medo e não consigo me mover ou gritar em um sonho, porque no sonho eu grito sem voz e corro parada quando sinto medo.

Eu, que ás vezes me julgo estranha, naquele momento fui incrivelmente estranha sem levantar suspeita alguma de que estivesse sendo. Nunca houve um momento de maior estranheza. Nenhum movimento de pestanas, de mãos ou pernas. Nem cara inconformada. Nenhum movimento de nada.

Um instante em que não me movi por que ele chegou perto de mim e sorriu e isso foi mais que o suficiente para me manter imóvel por minutos eternos. Vai passar. É só ter calma e não pensar que não me mexo sem estar brincando de estátua. Tudo vai ficar bem se ele não souber que me faz perder os movimentos. Pensei ser rápida e tentei mexer os dedos da mão direita. Estátua. Tentei mexer os dedos da mão esquerda. Estátua. Tentei mexer os cabelos, estratégia feminina utilizada para chamar atenção do sexo oposto. Estátua. Experimentei dar um passo. Estátua ainda.

Uma estátua viva com sangue quente correndo pelas veias. Finalmente. O sangue de tão quente ferveu e me denunciou enrubescendo meu rosto que ficou da mesma cor da blusa que eu estava usando. Vermelha de paixão. Vermelha de sangue quente, que me salvou no instante em que tornou vermelha minha palidez imóvel. Estampando toda a minha vergonha que ardia na face.  A mesma vergonha que despertou os meus sentidos dormentes me acovardando de vez depois que o maldito ao ver meu rosto tal qual uma pimenta malagueta, me perguntou em tom gozador: É reflexo da blusa? Não suportei ouvir isso, sai dali correndo sem olhar pra trás feito Forest Gump sem que ele nunca soubesse o que eu sentia. Será que existe algum charme em bochechas enrubescidas?




segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O Fim


Na ficção eu sou fã de Happy Endings. Gosto de finais felizes porque fogem totalmente da realidade. Confesso que os finais tristes me deixam revoltada.

Talvez, porque eu saiba o quanto um final é triste na realidade. 

Ninguém consegue imaginar quando o fim está rasgando meu peito. Fim causa dor. Apaixonar-se é uma dor. Dói a não concretização do amor. Dói a expectativa de ver correspondido um amor. Mas o fim do amor sempre dói muito mais. O fim corrói tudo por dentro e faz os pés perderem o chão.

Fim do relacionamento, de uma amizade, de um sonho, uma música, uma conversa, do filme, do chocolate, da festa, fim de qualquer coisa.

E se eu for embora antes do final? Talvez o fim não chegue e então não exista. Eu sempre tenho vontade de ir embora antes do fim e ninguém nunca me entende por isso. Não entendem  o meu pavor pelo fim.

Prefiro o meio que é a melhor parte. O meio não tem as dificuldades do começo e nem as tristezas do fim.

De repente, um desespero não sei de que. Só sei que está aqui. Necessidade de não sei o que. Só sei é que acaba.

Mesmo que eu coloque no repeat mil vezes minha música preferida ou fique até o último segundo de qualquer festa. Coma centenas de chocolates. O fim cisma em aparecer. 

O fim é traiçoeiro. Adora aparecer em momentos inusitados. Quando estou lavando louça, de pijama me preparando para dormir, com os cabelos desarrumados. Lambendo os beiços. O fim surge sem pedir permissão para acabar com seja lá o que for.

Nunca compreendo totalmente um fim. Ainda que eu saiba que ele é necessário e decida por mim mesma que é hora de colocar um ponto final. Se acaba é porque vai me roubar alguma coisa. Por isso resisto tanto a sua ação cruel. Choro, brigo tento prolongar ao máximo apenas para que não acabe, para que continue a existir e não haja um coração partido para a tristeza se alojar. 

Tem fim do ruim? Para minha alegria sim. Ufa, o ruim também tem fim. Mas o que eu não quero é que o bom tenha fim! O bom tem que durar. Eu sei que o mundo inteiro "para" se o bom não acaba.

Eu posso abraçar forte enquanto vejo o mundo girar. Posso beijar devagar, dançar até o fim da festa e saborear meu chocolate sossegadamente. Ainda resta o momento, o pedaço a paixão. Porque é tudo infinito enquanto não tem fim.





terça-feira, 9 de agosto de 2011

Sonhos Cadentes


Sonhei muito com ela e em momentos raros e inesperados ela surgiu. Em um céu sortudo, negro e cheio de estrelas, a estrela cadente surgiu da mesma forma que desapareceu, sem deixar rastros.

Temos a superstição boba de que ao surgir uma estrela cadente surge também á esperança com a crença de ter um de nossos desejos realizados com tal acontecimento.

Quem nunca guardou um pedido para o encontro com essas efêmeras estrelas?

A primeira vez que vi uma estrela cadente fiquei impressionada. Sai alucinada atrás dela.

Queria poder desfrutar de sua beleza. Quem sabe, ilusoriamente eu seria sua amiga e faria a ela confissões secretas. Então, em um passe de mágica ela me concederia a concretização de meus desejos e daí em diante tudo seria diferente em minha vida.

Mas voltando a realidade, na velocidade com que ela passa é quase impossível fazer um pedido. Apenas uma, dentre as poucas vezes em que presenciei esse fenômeno luminoso pude contemplar vagamente a passagem da estrela.

Comparo as estrelas cadentes com os sonhos... Muitos deles têm a mesma fugacidade. Os sonhos podem passar tão depressa que se não estivermos concentrados e atentos ao que queremos, simplesmente eles se desfazem e nem nos damos conta que os perdemos para sempre.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Ainda Não É...


Às vezes tudo o que você faz nesse mundo parece nada.
Você anda pelas ruas e vai a diversos lugares. Churrascos, casamentos, barzinhos, confraternizações, eventos, raves, pagodes, festas e reuniões em geral. Mas não há lugar que te faça sentir-se bem. Porque pressente de alguma maneira que nenhum desses é o seu lugar.

Você compra e consome, mas nada do que adquire irá verdadeiramente ser útil... Como aquele multiprocessador que comprou parcelado e que usou só duas vezes, e agora continua a cortar os alimentos manualmente porque dá muito trabalho encaixar todas aquelas pecinhas e depois ter que lavar. Ou aquele CD que comprou só por causa de uma música e descobriu que tirando essa música o resto do CD não vale muito a pena. Porque mesmo que inconscientemente sabe que nada disso era o que estava precisando.
Conversa com várias pessoas sobre muitos assuntos e nenhuma delas consegue te dizer algo substancial. Porque imagina que as palavras certas ainda não foram ditas pelas pessoas certas.
Nenhum de seus relacionamentos conseguiu te completar. Porque a flecha do Cupido não  atingiu certeiramente em seu peito. Ei Cupido, que anda fazendo que não acerta o alvo como se deve?
Seu mundo ameaça desmoronar. Afinal nada parece se acertar. Mas você se conforta, abraça seu travesseiro feliz. Porque pensa que talvez esse não seja o seu mundo.
O seu emprego não pode te dar o que tanto buscou. Porque sabe que onde está não é exatamente aonde pretende chegar.
Você se torna tão pequeno diante de um mundo tão imenso. Porque ainda não é grande o bastante para enfrentá-lo de igual para igual.
Seu choro já escasso não produz nenhuma lágrima. Você já não pode mais sentir. Alegria e tristeza se misturam e se transformam no mesmo sentimento.
E então começa a duvidar se ainda é capaz de distinguir as emoções.
Quando esse momento chegar  respire aliviado e relaxe. Isso é apenas porque ainda não encontrou o que está procurando.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Um Pouco de Atenção

Criança pare de tentar chamar atenção.
A adolescência e todo seu arroubo já passaram, pare de descontar suas carências descontroladamente em tudo a sua volta.
Eu sei que o mundo foi cruel com você. Mas existe muito mais sofrimento além do que conheceu. 
Acreditar que o seu é o pior dos mundos é uma má ilusão, não viva dela.
Sei que presenciou o fracasso de um relacionamento com toda sua dor e violência. Dele sentiu toda rejeição causada pela indiferença de quem deveria lhe dar amor em dobro.
Criança, agora se olhe no espelho. Seu corpo tem novas formas e aquelas marcas da agressão já cicatrizaram há muito tempo. Mas seus sonhos ainda estão ai dentro de você. 
Então se agarre a eles antes de destruí-los de vez. Sim, viva da boa ilusão.
Não culpe a ignorância por todo o mal em sua vida.
Não fume. Não beba excessivamente. Não jogue a louça contra a parede. Não rasgue a roupa de seu corpo. Não fuja para morar em uma casa velha e abandonada. Não corra. Não se jogue do carro em movimento. Não vá para um caminho sem volta. Por favor, não morra para chamar a atenção.
Não julgue quem pode ter tido um sofrimento maior que o seu, perceba que nem mesmo você consegue lidar com o amargo sofrimento. Não se humilhe fingindo sentir o que não sente só para não ser rejeitada. Não se rasteje implorando por um mísero amor.
Criança amedrontada tire o medo e a loucura de seu olhar e extermine os fantasmas do passado. Passado no qual ainda está presa. Vamos saia de agora de lá. Abandone seu apego ao velho. Já é hora de crescer e assumir os anos em que não viveu. Não viveu por estar presa. Não viveu, por seu apego aquele brinquedo que fez de o seu favorito... A dor.

sábado, 23 de julho de 2011

Dos Meus Medos


Dos meus medos, um dos maiores é o medo de me tornar o que não sou.
Sim, tenho medo de chegar um dia em que só exista em mim superficialidade e que isso se expresse em minhas atitudes e em meus diálogos.
De o supérfluo criar em mim obsessão pela aparência fazendo com que eu me transforme em uma boneca de plástico. E quando eu me olhar no espelho já não exista nenhum traço meu. 
Da falta de amor me tornar uma pessoa vazia que viva apenas para se alimentar das sobras da vida dos outros.
E ao me tornar essa pessoa oca de tanto me alimentar de inutilidades, nada do que eu fale consiga realmente ser útil ou aproveitado.
Medo de meus pensamentos diluírem-se em um conjunto que não comporta nenhum elemento.
De que o rancor me domine, fazendo com que eu acumule ressentimentos usando minhas mágoas como desculpa para cometer erros. 
De que as pessoas que sempre conviveram comigo não me reconheçam mais.
De me perder sem saber aonde fui parar. E ao me perder nunca mais volte a me encontrar.
Da pessoa que está ao meu lado não encontre mais em mim qualidades suficientes para continuar a me amar.
De minha companhia se tornar descartável. 
De perder o brilho no olhar, a naturalidade de ser, os movimentos da face e os sentimentos humanos.
De esquecer o propósito para o qual estou nesse mundo.
De não ter do que me orgulhar por ser apenas capa sem o conteúdo. Apenas objeto e não o sujeito de minha própria história.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Egotrip


Ame-me ou deixe-me!

Mas primeiro ao menos tente entender esse gênio difícil cuja sensibilidade está sempre á flor da pele.

Desculpas não me faltam para tentar justificar os lapsos cometidos por essa minha inquietude de ser.

Já indaguei ser um hábito adquirido ao longo dos anos ou se teria algo a ver com o mapa astral.

Talvez a genética tenha ajudado.

Quem sabe a educação que recebi tenha me tornado o que sou. 

Numerologia e significados de nomes também dizem ter influência sobre essa mesma questão. Ou não!

Acredite. Não me coube o direito de escolher as características formadoras da minha personalidade.

Sobre as crises que tenho de excesso de verdades, por favor, peço encarecidamente que não entenda  tais crises como um disparo de críticas.

Sobre a dificuldade em me dissuadir, por favor, peço que não confunda uma opinião formada como  teimosia de minha parte.

Sobre a minha vontade de guardar  as pessoas que eu gosto dentro de um potinho para amar e proteger para todo o sempre, por favor, peço que não pense tratar-se de  possessividade.

Sobre a desconfiança das flores me vigiarem do jardim, por favor, peço que não interprete essa paranoia absurda como um possível egocentrismo.

Sobre eu ser uma pessoa “introspectivatímidareservada”, por favor, peço que não julgue esse meu constante alheamento como arrogância.

Até porque quem é critico com os outros é bem mais critico a si próprio.

Ter opinião própria é melhor do que se deixar influenciar pelo o que os outros dizem. 

Ser possessivo sem exageros é  melhor do que não se importar com nada.

Achar que as flores teriam o trabalho de me vigiar acaso elas pudessem fazer isso, é uma maneira de me valorizar.

Voltar-se para dentro é melhor do que focar-se no alheio.

Entre o dilema do “como é difícil ser eu”, é sempre mais sofrível carregar um temperamento cheio de complexidades do que conviver com ele.

E só de vez em quando, eu fico carente e preciso de um abraço, de saber que alguém se importa comigo, que me diga o quanto eu sou forte e me faça acreditar nisso. 

Mas só de vez em quando.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Cheiro de Pimentão


Alguns anos atrás em épocas de fim de ano nos meses de dezembro, e chegada das datas comemorativas eu gostava de caminhar pelas ruas pacatas, notando a calmaria comum das cidadezinhas do interior. Gostava também de observar o balanço das folhas nas árvores e acolher o vento fresco que me abraçava gentilmente transmitindo sua mistura de fim de primavera e inicio de verão.
  
As decorações de luzes brilhavam alegres preanunciando as festas. As casinhas antigas eram preparadas para receber visitas dos parentes que moravam por perto e os que viam de longe especialmente para rever seus familiares distantes. Pessoas alegres e hospitaleiras sorriam em clima natalino.

As mulheres reunidas preparavam a ceia durante toda à tarde para ser servida a meia noite, uma ceia farta de sabor inesquecível. A pracinha que servia de ponto de encontro para os jovens também convidava a todos a participar da missa pelo tilintar dos sinos.

Roupas e sapatos novos que só podiam ser estreados exclusivamente em tais datas eram exibidos com orgulho.

Por todos os lugares pelos quais eu passava um cheiro se destacava, o aroma de pimentão verde invadia os ares da pequena cidade. Aquele cheiro mantinha-se sempre presente naqueles dias em que a família completa celebrava e abraçavam-se a desejar boas festas. Sem nenhuma preocupação na cabeça, eu aproveitava para respirar o aroma e sentir com totalidade as sensações despertadas, gravando na memória os detalhes que formavam aquele prazeroso momento.

Desses encontros restaram apenas os desencontros. Hoje cada um resolve ir para um lado no fim do ano e a quantidade dos familiares que continuam a se reunir é cada vez menor.

O passado não permite ser guardado em uma caixinha, mas as recordações sempre ficam. Como o gosto daquela pizza portuguesa que só saboreávamos em ocasiões especiais. O cheiro da chuva caindo na calçada... Ou do nostálgico cheiro de pimentão daquelas tão felizes datas.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Do Lado de Fora




Minha visão sobre o do lado de fora começou com lembranças de sonhos que com o tempo foram deixados para trás, anseios adormecidos e sufocados até serem esquecidos. 

Depois de ter lutado tanto para estar do lado de dentro, fazendo promessas e correndo atrás de qualquer possibilidade que trouxesse a segurança da estabilidade.

Frustração... Sentimento adquirido após anos trabalhando em um lugar fechado, disputando cargos, computadores e ar condicionado. Obedecendo a hierarquias, acumulando neuras, controlando vontades.

O lado de dentro passou a me incomodar, porque tornou-se imutável e cômodo, nada mais desperta interesse ou satisfaz, tudo se resume a objetos que um dia acreditei piamente serem meus, mas que não posso levar comigo quando abandonar o comodismo do lado de dentro. 

Já do lado de fora o vento sopra em meus cabelos freneticamente enquanto sigo novos caminhos guiados por expectativas de restaurar os velhos ideais perdidos. Lá fora brilha o recomeço e me convida a dar início a uma nova história.

 E o que fica para trás continua normalmente, como se o antes nunca houvesse existido, com a memória apenas do usado.
Do lado de fora, quando olhar para trás só o que vai restar é uma janela, a qual do lado de dentro me limitava a observar apenas um pedaço do céu azul.

Mas do lado de fora posso ter a visão completa.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Essencial


A perda de valores extraordinariamente está tomando conta de todos os noticiários.

A arte, a cultura e o amor estão sendo ignorados, então eis que surge pelas transmissões, um mundo nada admirável.

Pergunto-me se há um imenso aproveitamento do trágico ou o notável acabou-se e não restou nada para ser admirado. Não sou hipócrita, tenho ciencia das dores e males do mundo, mas e sobre as coisas boas, não sobrou nada a ponto do terror pairar livremente, onde estão sendo divulgados os  prometidos dias melhores?

Sei que de alguma forma ainda existe muito do bom para ser apreciado, apenas não está sendo divulgado. Preciso de um pouco de esperança e beleza, senão o mundo se torna em vão.

Contem-me histórias de casais completando bodas de ouro, o tão sonhado Sweet Love, crianças prodígios passando despercebidas, atletas determinados, jovens brilhantes estudando para obter crescimento profissional, poetas recitando suas poesias, escassa poesia. Artistas de rua e teatro, malucos beleza de talentos desconhecidos, mas felizes por fazerem o que lhes traz prazer perdidos pelas cidades. Torcendo para serem descobertos.

Mostrem-me exemplos de pessoas com bom caráter, que embora as condições de vida tenham sido difíceis conseguiram manter-se integras em seus dias de luta e levam uma vida digna.

Divulguem a leitura que anda tão desvalorizada pela falta de incentivo.

A história nos prova com seus bons exemplos e talentos que ainda existe muito do bom, mas não encontram espaço nas notícias, opostamente ao superficial e ao trágico supervalorizados.

 Então me detenho a  levar comigo apenas o essencial, o que realmente importa.


É o que me basta.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Estranhos



Desconhecidos se misturam em uma confusão de cores e sons distinguidos apenas pelos passos. Eu sou apenas mais uma completando a variedade de tons de peles e cabelos que se difundem em meio à multidão das cidades. Observo as expressões desses estranhos e a maneira como somem em meio ao emaranhado de pessoas, levando consigo seus segredos.
Gostaria que me contassem suas histórias e experiências... Poder conhecê-los de verdade, saber da infância, amores, fatos engraçados e preferências.
Imagino como agiriam se eu me atrevesse a perguntar...
  - Hei, por que carrega consigo expressão tão triste?
  - Senhores, porque passam os dias em botecos e pracinhas?
  - Curte The Beatles?
  - Como se chama? 
Imagino também a possível resposta:
- Não é da sua conta!
Ah...
Eu precisava ouvir isso, mas eles não entenderam minha filosofia que insiste em refletir histórias alheias que para mim não existem e por isso me aguça a vontade de conhecer! O que estariam a buscar desesperadamente na batalha pela sobrevivência, sonhos e necessidades? Ou estariam apenas deixando passar os momentos, se iludindo com cenas de novelas, tentando ser iguais ao fictício. Quais seriam seus segredos? Quais carências acumularam dentro de si com a falta de algo?  Poderiam revelar a um desconhecido o que lhes faz feliz, e ao contrário o que lhes entristece?
Anseio conhecer a diferença entre gostar de MPB, SAMBA, ROCK ou TANGO, ao mesmo tempo tentar entender o que estaria por trás do tão procurado estilo demonstrado de formas tão explicitas gritando para chamar a atenção, dividindo o mesmo espaço de outras que fazem de tudo para não serem notadas no aglomerado de pessoas. Particularidades da vida de cada um quando são reveladas podem  aproximar ou  afastar, mas enquanto ocultos, atiçam a curiosidade.
O que deixei passar ao não perceber alguém que me sorriu e tentou se aproximar, quantos assuntos poderíamos ter discutido, o que eu poderia ter aprendido ou ensinado? Porém, sei que o “demais” tende a se tornar invasão do que pertence ao outro, então só resta indagar sobre pessoas, suas manias, seus mundos. Como seria um mundo do qual não faço parte?
Dessa forma continuo a caminhar do lado de desconhecidos ignorando compatibilidades, comprando as mesmas coisas, sentando nos mesmos bancos, saciando as mesmas sedes, alimentando as mesmas fomes, conhecendo os mesmos filmes, livros, ouvindo os mesmos sons, achando as mesmas coisas, sentindo o mesmo frio ou calor, indo aos mesmos lugares, sem chegar mais perto por não ter  a situação que proporciona o encontro, o destino que une e faz as pessoas serem parte da mesma história perdendo o momento de se tornar para o outro um conhecido, companheiro, amigo ou amor.