sábado, 23 de julho de 2011

Dos Meus Medos


Dos meus medos, um dos maiores é o medo de me tornar o que não sou.
Sim, tenho medo de chegar um dia em que só exista em mim superficialidade e que isso se expresse em minhas atitudes e em meus diálogos.
De o supérfluo criar em mim obsessão pela aparência fazendo com que eu me transforme em uma boneca de plástico. E quando eu me olhar no espelho já não exista nenhum traço meu. 
Da falta de amor me tornar uma pessoa vazia que viva apenas para se alimentar das sobras da vida dos outros.
E ao me tornar essa pessoa oca de tanto me alimentar de inutilidades, nada do que eu fale consiga realmente ser útil ou aproveitado.
Medo de meus pensamentos diluírem-se em um conjunto que não comporta nenhum elemento.
De que o rancor me domine, fazendo com que eu acumule ressentimentos usando minhas mágoas como desculpa para cometer erros. 
De que as pessoas que sempre conviveram comigo não me reconheçam mais.
De me perder sem saber aonde fui parar. E ao me perder nunca mais volte a me encontrar.
Da pessoa que está ao meu lado não encontre mais em mim qualidades suficientes para continuar a me amar.
De minha companhia se tornar descartável. 
De perder o brilho no olhar, a naturalidade de ser, os movimentos da face e os sentimentos humanos.
De esquecer o propósito para o qual estou nesse mundo.
De não ter do que me orgulhar por ser apenas capa sem o conteúdo. Apenas objeto e não o sujeito de minha própria história.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Egotrip


Ame-me ou deixe-me!

Mas primeiro ao menos tente entender esse gênio difícil cuja sensibilidade está sempre á flor da pele.

Desculpas não me faltam para tentar justificar os lapsos cometidos por essa minha inquietude de ser.

Já indaguei ser um hábito adquirido ao longo dos anos ou se teria algo a ver com o mapa astral.

Talvez a genética tenha ajudado.

Quem sabe a educação que recebi tenha me tornado o que sou. 

Numerologia e significados de nomes também dizem ter influência sobre essa mesma questão. Ou não!

Acredite. Não me coube o direito de escolher as características formadoras da minha personalidade.

Sobre as crises que tenho de excesso de verdades, por favor, peço encarecidamente que não entenda  tais crises como um disparo de críticas.

Sobre a dificuldade em me dissuadir, por favor, peço que não confunda uma opinião formada como  teimosia de minha parte.

Sobre a minha vontade de guardar  as pessoas que eu gosto dentro de um potinho para amar e proteger para todo o sempre, por favor, peço que não pense tratar-se de  possessividade.

Sobre a desconfiança das flores me vigiarem do jardim, por favor, peço que não interprete essa paranoia absurda como um possível egocentrismo.

Sobre eu ser uma pessoa “introspectivatímidareservada”, por favor, peço que não julgue esse meu constante alheamento como arrogância.

Até porque quem é critico com os outros é bem mais critico a si próprio.

Ter opinião própria é melhor do que se deixar influenciar pelo o que os outros dizem. 

Ser possessivo sem exageros é  melhor do que não se importar com nada.

Achar que as flores teriam o trabalho de me vigiar acaso elas pudessem fazer isso, é uma maneira de me valorizar.

Voltar-se para dentro é melhor do que focar-se no alheio.

Entre o dilema do “como é difícil ser eu”, é sempre mais sofrível carregar um temperamento cheio de complexidades do que conviver com ele.

E só de vez em quando, eu fico carente e preciso de um abraço, de saber que alguém se importa comigo, que me diga o quanto eu sou forte e me faça acreditar nisso. 

Mas só de vez em quando.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Cheiro de Pimentão


Alguns anos atrás em épocas de fim de ano nos meses de dezembro, e chegada das datas comemorativas eu gostava de caminhar pelas ruas pacatas, notando a calmaria comum das cidadezinhas do interior. Gostava também de observar o balanço das folhas nas árvores e acolher o vento fresco que me abraçava gentilmente transmitindo sua mistura de fim de primavera e inicio de verão.
  
As decorações de luzes brilhavam alegres preanunciando as festas. As casinhas antigas eram preparadas para receber visitas dos parentes que moravam por perto e os que viam de longe especialmente para rever seus familiares distantes. Pessoas alegres e hospitaleiras sorriam em clima natalino.

As mulheres reunidas preparavam a ceia durante toda à tarde para ser servida a meia noite, uma ceia farta de sabor inesquecível. A pracinha que servia de ponto de encontro para os jovens também convidava a todos a participar da missa pelo tilintar dos sinos.

Roupas e sapatos novos que só podiam ser estreados exclusivamente em tais datas eram exibidos com orgulho.

Por todos os lugares pelos quais eu passava um cheiro se destacava, o aroma de pimentão verde invadia os ares da pequena cidade. Aquele cheiro mantinha-se sempre presente naqueles dias em que a família completa celebrava e abraçavam-se a desejar boas festas. Sem nenhuma preocupação na cabeça, eu aproveitava para respirar o aroma e sentir com totalidade as sensações despertadas, gravando na memória os detalhes que formavam aquele prazeroso momento.

Desses encontros restaram apenas os desencontros. Hoje cada um resolve ir para um lado no fim do ano e a quantidade dos familiares que continuam a se reunir é cada vez menor.

O passado não permite ser guardado em uma caixinha, mas as recordações sempre ficam. Como o gosto daquela pizza portuguesa que só saboreávamos em ocasiões especiais. O cheiro da chuva caindo na calçada... Ou do nostálgico cheiro de pimentão daquelas tão felizes datas.