quarta-feira, 25 de julho de 2012

Fome






O tempo tem me mostrado que à medida que ele for passando vou sentir cada vez mais fome. É tanta fome de momentos passados, de calma para minhas ansiedades, fome de respostas para as minhas perguntas. É como se ao satisfazer a fome eu também pudesse aliviar minhas angústias.

Penso que estou tentando encontrar amor em cada colherada, em cada vontade que tenho de comer o que comia quando era criança, quando tinha toda a família reunida em casa. Depois que sai da casa da minha mãe tenho vontade de comer as comidas que ela fazia, antes só queria comer o que não tinha em casa.

Do nada me pego procurando por aquele doce da infância ou aquele salgado da escola, querendo sentir o gosto do que passou e com isso voltar no tempo um pouquinho.

Abro a geladeira e olho, penso, pego, devolvo, pego novamente, como. Continuo insatisfeita e o vazio ainda persiste, então surge outra vontade. Começa outra procura, outra lembrança, outra insegurança. Uma outra fome.

Já não ligo mais para as propagandas anunciando deliciosas novidades que outrora faziam meus olhos brilharem. Eu não quero mais o que queria antes. Eu quero o que tinha quando ainda não sabia o que queria. E agora que sei, quero trazer o tempo de volta. Quero o que não tenho mais, e depois sei vou querer o que tenho agora.

Sinto que sempre vai faltar alguma coisa e por isso a única certeza que tenho agora é a certeza de que a minha fome não vai saciar nunca.