sexta-feira, 1 de julho de 2011

Cheiro de Pimentão


Alguns anos atrás em épocas de fim de ano nos meses de dezembro, e chegada das datas comemorativas eu gostava de caminhar pelas ruas pacatas, notando a calmaria comum das cidadezinhas do interior. Gostava também de observar o balanço das folhas nas árvores e acolher o vento fresco que me abraçava gentilmente transmitindo sua mistura de fim de primavera e inicio de verão.
  
As decorações de luzes brilhavam alegres preanunciando as festas. As casinhas antigas eram preparadas para receber visitas dos parentes que moravam por perto e os que viam de longe especialmente para rever seus familiares distantes. Pessoas alegres e hospitaleiras sorriam em clima natalino.

As mulheres reunidas preparavam a ceia durante toda à tarde para ser servida a meia noite, uma ceia farta de sabor inesquecível. A pracinha que servia de ponto de encontro para os jovens também convidava a todos a participar da missa pelo tilintar dos sinos.

Roupas e sapatos novos que só podiam ser estreados exclusivamente em tais datas eram exibidos com orgulho.

Por todos os lugares pelos quais eu passava um cheiro se destacava, o aroma de pimentão verde invadia os ares da pequena cidade. Aquele cheiro mantinha-se sempre presente naqueles dias em que a família completa celebrava e abraçavam-se a desejar boas festas. Sem nenhuma preocupação na cabeça, eu aproveitava para respirar o aroma e sentir com totalidade as sensações despertadas, gravando na memória os detalhes que formavam aquele prazeroso momento.

Desses encontros restaram apenas os desencontros. Hoje cada um resolve ir para um lado no fim do ano e a quantidade dos familiares que continuam a se reunir é cada vez menor.

O passado não permite ser guardado em uma caixinha, mas as recordações sempre ficam. Como o gosto daquela pizza portuguesa que só saboreávamos em ocasiões especiais. O cheiro da chuva caindo na calçada... Ou do nostálgico cheiro de pimentão daquelas tão felizes datas.

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