quarta-feira, 25 de julho de 2012

Fome






O tempo tem me mostrado que à medida que ele for passando vou sentir cada vez mais fome. É tanta fome de momentos passados, de calma para minhas ansiedades, fome de respostas para as minhas perguntas. É como se ao satisfazer a fome eu também pudesse aliviar minhas angústias.

Penso que estou tentando encontrar amor em cada colherada, em cada vontade que tenho de comer o que comia quando era criança, quando tinha toda a família reunida em casa. Depois que sai da casa da minha mãe tenho vontade de comer as comidas que ela fazia, antes só queria comer o que não tinha em casa.

Do nada me pego procurando por aquele doce da infância ou aquele salgado da escola, querendo sentir o gosto do que passou e com isso voltar no tempo um pouquinho.

Abro a geladeira e olho, penso, pego, devolvo, pego novamente, como. Continuo insatisfeita e o vazio ainda persiste, então surge outra vontade. Começa outra procura, outra lembrança, outra insegurança. Uma outra fome.

Já não ligo mais para as propagandas anunciando deliciosas novidades que outrora faziam meus olhos brilharem. Eu não quero mais o que queria antes. Eu quero o que tinha quando ainda não sabia o que queria. E agora que sei, quero trazer o tempo de volta. Quero o que não tenho mais, e depois sei vou querer o que tenho agora.

Sinto que sempre vai faltar alguma coisa e por isso a única certeza que tenho agora é a certeza de que a minha fome não vai saciar nunca.

domingo, 24 de junho de 2012

Desabo De Mim







Se eu me bastasse não precisaria de carinho, de amor, de beijinho. Se eu me bastasse, não me encolheria toda para caber em um abraço cada vez que perco o chão ou a razão. Se eu me bastasse nunca usaria maquiagem para me sentir mais segura com a minha aparência.

Mas, a verdade é que eu não me basto. Dou risada do meu despropósito, do meu embaraço, da minha instabilidade que pede por afago. Tenho medo de me perder em meio aos meus desatinos e não ter outro ser humano por perto para me trazer de volta a realidade. Tenho medo de me quebrar em mil pedaços e depois não conseguir me juntar inteira novamente. Eu sei que se me faltar um pedacinho irá passar despercebido porque é como quando corto o cabelo e ninguém nota. Pedacinho é pouquinho e de pouquinho ninguém faz questão.  A única pessoa que sente falta daquele pedaço que foi cortado sou eu.

Então às vezes procuro por acalanto em um ombro para encostar minha cabeça e chorar quando já não suporto mais com o peso do mundo em minhas costas. Ainda que eu não goste de me repartir, bastar a mim mesma exige que frequentemente me demostre inteira por fora mesmo estando quebrada por dentro. Por um tempo eu aguento, por um tempo não doí tanto se eu me permitir desabar de vez em quando.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Nothing is Everything




Preciso de um tempo para esquecer tudo o que me faz ser eu. Necessito constantemente esvaziar os sentimentos acumulados ao longo do tempo e não ter mais as paixões erradas, os sonhos desfeitos, os erros e acertos que fazem a minha história ser minha. 

Abrir os olhos com uma perspectiva diferente para a vida e por alguns momentos deixar para trás o que eu fui e o que eu sou. Nascer novamente e enxergar somente a pureza das coisas. Ver tudo limpo como uma folha de papel em branco antes que as palavras sejam escritas e a tornem uma história.

Preciso de um tempo para pintar o cabelo de azul, fazer tatuagens e não procurar emprego porque serei o desconhecido, o ousado, o novo e o inusitado, assim não haverá nesse mundo o que me prenda ou o que me renda. Nada que me limite ou me irrite, nenhum apego ao passado ou anseio ao futuro.

Apenas sentir o vazio por segundos sem nada que me corroa por dentro e assim me tornar mais forte, mais viva. No momento em que tudo desaparece é que consigo recuperar minhas forças para seguir adiante, no instante em que não sou nada é que também sou tão profundamente tudo.




domingo, 13 de maio de 2012

Explica-me Por favor



Quando alguém pergunta por que eu gosto de ficar sozinha, afastada de onde as outras pessoas estão reunidas ou o motivo de eu ser na maioria dos dias mais triste do que alegre eu não consigo explicar. Não sou boa em me explicar, não sou boa em interagir animadamente mostrando os dentes exageradamente para gente que eu não conheço e sou péssima em ser alguém que eu não sou.

Consigo estar sozinha mesmo estando em lugares cheios de gente e em certos momentos distanciar-me das situações e das pessoas. O tempo que passei a sós comigo me obrigou a voltar-me constantemente para dentro de mim, um exercício extremamente lento que só era interrompido quando eu começava a achar que já estava beirando a loucura. Sozinha enfrentei sol, chuva, vento e tempestades. Construí uma redoma e morei dentro dela me isolando do mundo.

Também posso ser feliz, sendo ainda lá no fundo triste. A tristeza é ferida na alma a qual eu consegui atenuar, mas não cicatrizar porque ela ultrapassou as camadas da minha pele e feriu por dentro. Em algumas noites ela aparece para me tirar o sono.  Por outras vezes passa sorrateiramente pela fortaleza que levei anos para construir e derruba em segundos meus muros de aço. Enraizou-se em mim quando assisti o absurdo se materializar em muitas de suas formas.
Sei que a minha tristeza não vem da solidão e nem acontece o contrário. Tristeza e solidão não são irmãs de sangue e sim irmãs que se unem pelo acaso.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Vida Deixada para Depois

Ouvimos falar muito em como deixamos tudo para a última hora, a famosa procrastinação em tomar decisões, cumprir prazos, tarefas que somos responsáveis por executar e que ainda assim vamos adiando.

O que as pessoas pouco falam é sobre procrastinar a vida em si. Pois acomodar-se para a vida é aceitar a própria infelicidade.

Depois de entrar ou de terminar a faculdade, depois de conseguir aquele emprego, depois do casamento, depois de fazer aquela viagem, depois de conseguir o aumento de salário ou a promoção tão esperada para um cargo mais elevado. Já escutei até:

­- Depois da aposentadoria, vou começar a curtir de verdade.

 Vamos admitir, há pelo menos uma questão em nossas vidas que temos deixado para depois.

Quantos depois estão guardados, deixando o ser feliz para depois.

Pobre depois. Geralmente ele não dá conta de atender a todas essas expectativas e acaba frustrando muita gente, porque depois que o depois chega e a felicidade não aparece, ninguém entende porque se sacrificar tanto por uma realização que não trouxe a satisfação esperada. Grande ironia não?

Exemplos não faltam... Você não suporta mais seu trabalho, mas vai enrolando para pedir demissão até quase ter um colapso nervoso. Deixa para depois o que poderia ter resolvido desde que perdeu a satisfação no emprego. E o relacionamento que não faz bem para ambos, mas as alianças de casamento já foram compradas. Prefere deixar para depois, e permanece infeliz.

Com o óbvio tudo parece ficar mais fácil. Tanto faz quão rico ou importante você é. Ninguém está livre de sofrer nesta vida e embora todos os seres humanos do planeta Terra parecem saber disso, poucas são as pessoas que realmente conseguem enxergar além do próprio umbigo e dão valor ao que tem.

Então que tal começar agora a eliminar as pendencias acumuladas ao longo da vida?  Perde-se muito pela espera, há muito nesse mundo para ver, sentir, ouvir, falar e amar.  Não é atoa que são elaboradas listas com títulos do tipo 1000 Lugares Para Conhecer Antes de Morrer, seguindo o mesmo para filmes, livros, vinhos, e etc. Alguns títulos são 1001, 100, 50. As listas assim como o mundo se renovam e se ampliam. Por que não se renovar também? Há muito para se viver. Não se deixe em stand by.

Faça o que tem vontade, não faça o que não tem. Não digo fazer a vontade criada pelo capricho e sim aquela vontade que está dentro de você, se analise, saiba o que quer de fato e descubra o que lhe tornaria um humano realizado. Simples? Nem um pouco. Mas começar a se livrar dos fantasmas do ócio, do receio, da comodidade, do preconceito, ou qualquer outra coisa vai te fazer ser mais completo.

Pode ser uma nova profissão, um pedido de desculpa, um novo amor, uma viajem, assumir sua sexualidade, dizer umas verdades pra quem merece ou até o divórcio.

Não é minha intenção fazer apologias ao que quer que seja ou estragar o casamento de alguém, mas se isso vai te libertar das amarras, vá em frente.

Porque enquanto cada segundo é desperdiçado pela espera, a vida continua cheia de beleza, cor e diversão.  Logo,  você sabendo que pode vivenciar tudo isso, já é um privilegiado (infelizmente sabemos que muita gente não pode).

Enfim, sei que esse assunto pode parecer meio clichê, mas de maneira nenhuma quero que seja considerado como tal. Esse texto é apenas para lembrar o quanto o amanhã é incerto e não vale a pena anularmos o agora idealizando essa incerteza.