segunda-feira, 23 de maio de 2011

Estranhos



Desconhecidos se misturam em uma confusão de cores e sons distinguidos apenas pelos passos. Eu sou apenas mais uma completando a variedade de tons de peles e cabelos que se difundem em meio à multidão das cidades. Observo as expressões desses estranhos e a maneira como somem em meio ao emaranhado de pessoas, levando consigo seus segredos.
Gostaria que me contassem suas histórias e experiências... Poder conhecê-los de verdade, saber da infância, amores, fatos engraçados e preferências.
Imagino como agiriam se eu me atrevesse a perguntar...
  - Hei, por que carrega consigo expressão tão triste?
  - Senhores, porque passam os dias em botecos e pracinhas?
  - Curte The Beatles?
  - Como se chama? 
Imagino também a possível resposta:
- Não é da sua conta!
Ah...
Eu precisava ouvir isso, mas eles não entenderam minha filosofia que insiste em refletir histórias alheias que para mim não existem e por isso me aguça a vontade de conhecer! O que estariam a buscar desesperadamente na batalha pela sobrevivência, sonhos e necessidades? Ou estariam apenas deixando passar os momentos, se iludindo com cenas de novelas, tentando ser iguais ao fictício. Quais seriam seus segredos? Quais carências acumularam dentro de si com a falta de algo?  Poderiam revelar a um desconhecido o que lhes faz feliz, e ao contrário o que lhes entristece?
Anseio conhecer a diferença entre gostar de MPB, SAMBA, ROCK ou TANGO, ao mesmo tempo tentar entender o que estaria por trás do tão procurado estilo demonstrado de formas tão explicitas gritando para chamar a atenção, dividindo o mesmo espaço de outras que fazem de tudo para não serem notadas no aglomerado de pessoas. Particularidades da vida de cada um quando são reveladas podem  aproximar ou  afastar, mas enquanto ocultos, atiçam a curiosidade.
O que deixei passar ao não perceber alguém que me sorriu e tentou se aproximar, quantos assuntos poderíamos ter discutido, o que eu poderia ter aprendido ou ensinado? Porém, sei que o “demais” tende a se tornar invasão do que pertence ao outro, então só resta indagar sobre pessoas, suas manias, seus mundos. Como seria um mundo do qual não faço parte?
Dessa forma continuo a caminhar do lado de desconhecidos ignorando compatibilidades, comprando as mesmas coisas, sentando nos mesmos bancos, saciando as mesmas sedes, alimentando as mesmas fomes, conhecendo os mesmos filmes, livros, ouvindo os mesmos sons, achando as mesmas coisas, sentindo o mesmo frio ou calor, indo aos mesmos lugares, sem chegar mais perto por não ter  a situação que proporciona o encontro, o destino que une e faz as pessoas serem parte da mesma história perdendo o momento de se tornar para o outro um conhecido, companheiro, amigo ou amor.


sexta-feira, 20 de maio de 2011

Divagar Sempre



 Divago em pensamentos até idealizar tudo o que a convicção condena. Começo a flutuar em um espaço de possibilidades sem sair do lugar. A banalidade que tanto cansa permanece estampada nos gestos programados meticulosamente em frases gravadas na memória para responder prontamente as solicitações rotineiras.

- Sim, eu posso!

Até arrisco dizer uma palavra difícil como “Anticonstitucionalissimamente”, cruzo as pernas calmamente e apoio a mão no rosto sem que ninguém perceba os desatinos que se passam em minha fértil imaginação.

Mas, os pensamentos se agitam de tal forma que por instantes tentam escapar, querem fazer das ilusões realidade, demonstrando o principio de um riso zombeteiro causado pelo devaneio, mas logo o riso é repreendido por minha rígida seriedade e logo a aparência fria retoma a face. Porém, o irreal é fugaz e foge do lúcido viajando na imensidão da mente á expandir horizontes de incríveis descobertas, brincando de provocar o sério, enquanto fantasias alvoroçadas e sem limites, trazem sentimentos de real intensidade e meu semblante de indiferente passa á eufórico, embora a monotonia ainda reine absoluta. Ao meu lado olhares interrogativos, mas ignoram sem questionar.

Paro um instante e me levanto para olhar pela janela. Lá fora: O céu cinza, as nuvens claras, pessoas conversando sobre as trivialidades de sempre, os carros passando fazendo barulho e soltando fumaça. Volto o olhar para o trabalho, ouço barulho de máquinas e observo pessoas a realizar as mesmas atividades diárias repetidamente sem dar uma piscadela sequer, penso em como se assemelham a robôs! 

Em cima da minha mesa uma pilha de papéis denuncia o acumulo de trabalho, rapidamente lembro-me da terceira xícara de café que havia deixado de lado para tentar não fugir da realidade novamente. 

Onde eu estava mesmo?