terça-feira, 30 de agosto de 2011

Timidez


Eu costumava imaginar como seria se ele me amasse. Criava romances protagonizando nós dois, ensaiava mil maneiras de declarar o que eu sentia calada. Mas, quando eu cheguei perto dele todos os meus sentidos foram embora restando apenas minha mudez calada.
Eu acuei sem querer enquanto tudo ao redor continuou a mover-se naturalmente.

Momento de perplexidade. Sensação de frear sem ter acelerado. Via as pessoas conversando, rindo, escutei alguém mexer comigo, mas não pude revidar, estava estática. Instante em que a voz ficou presa na garganta. Instante em que eu não poderia reagir nem se levasse um soco. Instante que não houve ação tampouco reação
 Não é igual como quando eu tenho medo e não consigo me mover ou gritar em um sonho, porque no sonho eu grito sem voz e corro parada quando sinto medo.

Eu, que ás vezes me julgo estranha, naquele momento fui incrivelmente estranha sem levantar suspeita alguma de que estivesse sendo. Nunca houve um momento de maior estranheza. Nenhum movimento de pestanas, de mãos ou pernas. Nem cara inconformada. Nenhum movimento de nada.

Um instante em que não me movi por que ele chegou perto de mim e sorriu e isso foi mais que o suficiente para me manter imóvel por minutos eternos. Vai passar. É só ter calma e não pensar que não me mexo sem estar brincando de estátua. Tudo vai ficar bem se ele não souber que me faz perder os movimentos. Pensei ser rápida e tentei mexer os dedos da mão direita. Estátua. Tentei mexer os dedos da mão esquerda. Estátua. Tentei mexer os cabelos, estratégia feminina utilizada para chamar atenção do sexo oposto. Estátua. Experimentei dar um passo. Estátua ainda.

Uma estátua viva com sangue quente correndo pelas veias. Finalmente. O sangue de tão quente ferveu e me denunciou enrubescendo meu rosto que ficou da mesma cor da blusa que eu estava usando. Vermelha de paixão. Vermelha de sangue quente, que me salvou no instante em que tornou vermelha minha palidez imóvel. Estampando toda a minha vergonha que ardia na face.  A mesma vergonha que despertou os meus sentidos dormentes me acovardando de vez depois que o maldito ao ver meu rosto tal qual uma pimenta malagueta, me perguntou em tom gozador: É reflexo da blusa? Não suportei ouvir isso, sai dali correndo sem olhar pra trás feito Forest Gump sem que ele nunca soubesse o que eu sentia. Será que existe algum charme em bochechas enrubescidas?




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